Eu gostaria de iniciar esse texto apresentando uma fórmula mágica para que você consiga se tornar vegano, mas não. Cada pessoa tem sua dificuldade específica. O que é fácil para mim pode não ser fácil para você, assim como o lugar onde cada um vive e o contexto familiar, tem total influência nos problemas a serem enfrentados.
FAMÍLIA
Muitos me perguntam como agir perante a família que faz piadas, ou não aceitam a sua decisão. Quando se mora com seus pais, e se é dependente deles, o esforço para um bom diálogo vai ser ainda maior. Mas entenda que se isso é um mundo novo para você, imagina para quem nem tem essas informações que você carrega. Tenha paciência em explicar suas decisões, e não espere concordância, apenas que as respeitem.
Quando informei para minha mãe que ia me tornar vegana, sua primeira reação foi insistir que eu procurasse uma nutricionista. E assumo aqui 3 privilégios: o apoio dela, poder pagar R$250,00 naquele momento, e ter na minha cidade, uma nutricionista que atendesse o público vegano. Caso você não tenha nenhuma delas, indico independentemente o guia da Mercy For Animals com dicas de nutricionistas para você ler e compartilhar com sua família.
Outro problema em relação a família, é que se antes você não costumava preparar seu alimento, chegou a hora. Em relação ao dia-a-dia não tive grandes complicações, até porque um bom prato de arroz feijão e legumes faz parte da minha rotina. Mas quando tem almoço em família, se torna mais difícil. Primeiro pela comida ser uma refeição especial, e segundo por ser uma lembrança afetiva no seu paladar. Quem fica feliz em abdicar do prato da vó? Aquela receitinha de família que te remete a infância e a momentos tão especiais. Por isso, nessas situações, eu sempre procurei interagir nas receitas para que eu não sentisse que estava perdendo algo. Se fizessem lasanha, eu também faria lasanha mas na versão vegana. Strogonoff a mesma coisa, moqueca, enfim. E lógico, faria em mais quantidade para aproveitar ao longo da semana. Mas isso era no começo quando tudo ainda era muito novo para mim, hoje em dia me dou a esse trabalho somente quando estou disposta. De início, todos faziam caretas e piadas com a minha comida, mas depois foram tomando gosto e sempre comem um pouco quando eu faço também.
PRODUTOS
De todas as dificuldades que eu enfrentei, os produtos não relacionados a alimentação foi o mais complicado. As pessoas costumam relacionar veganismo com dieta, mas esquecem que é algo muito além. Você sabe que ovo não é vegano, mas quando olha um shampoo, não sabe o que significa aqueles ingredientes no rótulo e nem se a marca testa em animais, ou terceiriza os testes.
Assim que eu decidi me tornar vegana, não joguei fora meus produtos de origem animal e comprei veganos. Conforme ia acabando, ia comprando e me adaptando para poder iniciar esse novo ciclo. Foi uma decisão pessoal, pois acho que geraria mais desperdício e consumo.
Algumas nomenclaturas me confundiram ao longo dessa transição, são elas:
– Cruelty free: O termo Cruelty free significa livre de crueldade. É utilizado para informar quando um produto não realiza testes em animais. Costumar vir com um rosto de um coelho e escrito “crueltyfree” no rótulo. Mas isso faz com que o produto seja vegano? Infelizmente não. A questão é um pouco complexa e contraditória, já que se é livre de crueldade, deveria abranger também os ingredientes que compõe o produto. Mas não é isso o que ocorre. Uma empresa pode não realizar testes, mas ter ingredientes como queratina, cera de abelha, colágeno, gelatina, sebo, e outros ingredientes que você pode conferir aqui na lista da PEA.
São exemplos de marcas que não realizam testes mas tem ingredientes de origem animal: Vult, Contem1g, Natura, O boticário, Quem disse Berenice.
– Vegano: Quando algum produto é vegano, significa que não houve qualquer tipo de exploração na sua produção. Isso diz respeito aos ingredientes, a forma de fabricação, e os testes em torno dele. Nesse caso, além de ser cruelty free/não testado em animais, ele precisa que os ingredientes que o compõe, não sejam de origem animal. A marca pode ser vegana, ou um produto específico de uma marca que não é vegana, pode ser vegano.
– Natural: Apesar de o termo natural remeter a algo puro, isso está bem longe de poder ser associado ao veganismo. Uma linha pode ser feita com ingredientes naturais, mas realizar testes ou conter cera de abelha na sua composição por exemplo. Por isso, é bom sempre ficar atento nos selos e buscar se informar a respeito dos produtos.
Esse é um processo que exige um pouco mais de tempo do que a alimentação. Mas conforme você vai se adaptando, e descobrindo onde procurar seus produtos, as dificuldades vão fluindo. Confesso que é muito mais complicado comprar cada tipo de produto em um lugar diferente do que ir a um supermercado e comprar sabonete/desodorante/produtos de limpeza/pasta de dente, enfim, num único lugar. Mas faz parte do processo, e depois nos acostumamos, já sabendo onde encontrar. Além da recompensa em não compactuar com uma indústria tão cruel, valer cada esforço!
Mas sei também que cada um tem sua limitação, seja financeira, ou localidade onde vive, então acredito na minha mais sincera opinião, que seu esforço deve ir de acordo com o que lhe é possível. Fazer alguma coisa é melhor do que não fazer nada, e vejo que muitas pessoas que por exemplo não tem condições de comprar o detergente natural de R$10,00 e não tem Ype na sua cidade, ou é impossível comprar a pasta de dente orgânica de R$21,00 e a Contente que é vegana e custa R$2,00 não vende na sua cidade e nem entregam nela, acabam se sentindo desestimuladas a continuar, e achando que nesse mundo, não tem espaço para elas. Mas ninguém é mais vegano do que outro. Cada um tem seus problemas, individualidades, rotinas diferentes, então acredito que ainda que não seja possível você adaptar todos os seus produtos ao veganismo (e acredite, isso é para poucos), caminhe com sua consciência, mas respeite seu limite.
QUEIJO
Assim como eu, a maioria das pessoas que eu conversei quando me tornei vegana, falaram que jamais seriam por não conseguir viver sem queijo. E entendo, é foda. Sempre fui o tipo de pessoa que abria uma embalagem de queijo e comia inteiro. Ou não importava que comida fosse, se tivesse queijo, eu iria amar. E o vício era tanto, que mesmo posteriormente ter descoberto minha intolerância, não deixei de comer nenhum pedaço por isso. Ia ao banheiro, passava mal, inchada, gases, mas eu sentia que compensava. E assumo isso por que muitas pessoas associam que o fato de alguém ser vegano, tem nojo de produtos de origem animal. Não tenho, eu amava queijo. E digo amava, por que de fato é um vício. O queijo possui o mesmo potencial de vício como drogas (digitem no google queijo+vicio), e quando eu fiquei mais tempo sem consumir ao me tornar vegana, ele foi deixando de me fazer falta. Um grande aliado a isso, foi alimentos cremosos. Se eu como por exemplo um hambúrguer seco, com certeza o queijo vai me fazer falta. Mas se eu faço uma maionese, um patê, ele passa despercebido sem problemas! Por isso, super recomendo que você tenha sempre na geladeira alguma pastinha para passar no pão, rechear tapioca, colocar na bolacha, o que for.
Sobre os queijos veganos, eles ainda são caros por serem feitos em pequena escala, o que acaba sendo pouco acessível. E como grande parte dos alimentos veganos, é importante que você coma não associando o paladar com o que você comia de origem animal. Existem versões caseiras na internet que você pode testar e ver se te agrada.
Tanto a carne quanto os laticínios, tendem a roubar o sabor para eles. Então, foi muito bom para mim nessa nova fase, explorar os temperos, ingredientes, e ir descobrindo novos paladares.
VIDA SOCIAL
Algo muito importante que você deve fazer, é mapear os restaurantes que tenham opções veganas. Grande parte dos restaurantes que eu frequento não são veganos, mas possuem pratos específicos adaptados ou adaptam na hora para mim. No começo é um esforço maior, mas depois você já tem uma base para onde pode ir, e assim não enfrentar problemas ao levar seus amigos ou familiares que não estão abertos a uma comida vegana.
Deixe um comentário